segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

CANIBAL VEGETARIANO DEVORA PLANTA CARNÍVORA

HUMBERTO GESSINGER, um bom começo.

 

E por aqui inicio as postagens do LITERAMUSICA, onde falarei sobre letras de músicas. Claro que, pretendo publicar algo bem eclético, para todas as tribos, todos os estilos! Começo com essa canção LADO B, que agora - com o CD - prefiro chamar de FUNDO DE DISCO. A letra é maravilhosa, e a música também. O disco é o GL&M (Gessinger, Licks & Maltz), de 1992, ainda pela gravadora BMG. Na verdade, o penúltimo disco da formação mais famosa dos ENGENHEIROS (que aliás, muita gente crê, equivocadamente, que trata-se da formação orginal), quando a banda ainda era um legítimo trio gaúcho. Vale a penas vasculhar a música.

 

CANIBAL VEGETARIANO DEVORA PLANTA CARNÍVORA

Gosto das antíteses, e o Gessinger também; acho que é por isso que nos damos bem.Como é que um canibal pode ser vegetariano? Como é que um vegetariano devora algo carnívoro? Mas quer saber, não vou subestimar os meus leitores não. Vou direto ao que interessa, porque é o mesmo que disséssemos: “policial federal perigoso rouba delegado que ameaça vítima de extorsão”. Ou ainda, “guarda de trânsito corrupto quebra lanterna de motorista legal sem dinheiro”. Talvez melhor, “Programas televisivos de baixo nível são discutidos por acadêmicos que professam a fé dos produtores”. É, Marcelo, o mundo é mesmo das antíteses. Por isso que se criam os mitos: “você tenta ajudar alguém e acaba se...”, ou ainda “quanto mais certo você tenta ser, mais você leva...”, e coisas assim. Mas nos tranqüilizemos: não estou aqui para proclamar nenhuma dessas idéias. Ao contrário, o bom senso, a sensatez e a consciência nos direcionam ao contrário. E, embora as aparências sejam muito evidentes, são evidências, que são frutos de interpretações, que sofrem influências dos vizinhos, do trabalho, da mídia, dos exemplos e das condições. Para quem gosta de falar em tecnologia, podemos dizer que quando nascemos... ops! Desculpe, quando fomos criados, o nosso espí... ai, foi mal! viemos com um chip, tipo de programa inserido em nossa HD, no qual contém o limiar do certo e do errado, onde podemos analisar que somos o nosso próprio julgo. Podemos chamar isso de consciência, caso concordem.

A velocidade daquilo que criamos parece nos devorar, ou ao menos tentar. Todo o tempo do homem empregado em algo que requer todo o seu tempo, e mais e mais, sempre mais o quer. As pessoas dizem desacreditar dos contos de fadas, mas condensam toda a sua vida em uma grande fábula, quando crê que pode ser assim, que podemos ser assim, que isso faz algum sentido. Vem disputar a vida, vem disputar seu próprio tempo, vem tentar aparecer pra que você possa se ver – questões práticas, não? Talvez. A nossa grande fábula é o sonho/pesadelo de fingirmos crer em tudo o que buscamos ou sonhamos que vai em desencontro ao bem coletivo, e de abraço ao nosso egocentrismo. Mas somos egocêntricos? Nós? Modernos, inteligentes, senhores do tempo e das coisas, analistas e julgadores de Deus e de sua Natureza... Eu diria que a nossa fantasia nos faz, no mínimo, heróis. Ôpa! Mas não cremos em super heróis também... Pois é. Estamos numa fria então; num impasse. Acho que essas sensações levaram o Gessinger ao pesadelo do “Canibal Vegetariano Devora Planta Carnívora”. Pra quem não conhece, eis um trecho, o qual pode ajudar a entender melhor, ainda que inadvertidamente, as palavras deste texto:

Eu tive um pesadelo, tive medo de não acordar.
Do alto de uma torre eu vi a Terra em transe profundo.
Todo mundo era poeta, todo mundo era atleta,
Todo mundo era tudo.
Eram várias variáveis
Um vírus voraz no computador.
Sem rumo: na contramão do fim da história
Em resumo: o sonho é over, overnight.

Essa agonia, essa sensação de desespero sem resposta consciente nos leva ao que chamaram de estresse; uma limitação que nos condiciona a uma passividade estranha à nossa natureza. Não trata-se de resignação, mas de passividade mesmo. Não trata-se de sermos compreensivos, mas reféns. Reféns do que escolhemos, do que criamos – um cão atrás do próprio rabo – canibais vegetarianos devorando plantas carnívoras. Toda essa tendência é alimentada pelo nosso orgulho, quase imperceptível nos dias de hoje – dado à normalidade de tê-lo. Também nosso egoísmo alimenta o olho do furacão, e esse egoísmo tem como base a normalidade do que é estranho, e o estranhamento do que seria normal. Eis-nos aqui, afinal, de braços abertos, e de costas para a onda.
Mas tudo isso faz parte da nossa formação. Evidente que somos melhores que antes, está claro que seremos melhores amanhã, mesmo quando as aparências demonstrarem o contrário. Porque elas, as aparências, simplesmente são condicionadas porá quilo que aprendemos ver como realidade; e que a realidade pode ser mera ficção é uma hipótese bem provável. Mas deixemos o tempo tomar conta dos fatos, deixemos a vida andar, o mundo girar. E claro, giremos com ele, vivamos.

Clichês inéditos, deja vu nunca visto
Esquerda light, diet indigestão
Jagunço hi-tech, perua lov profile
Cabelo vermelho Ferrari
Jóia rara para multidão.

Continuemos o teatro, o cinema, a produção da vida. Mas é importante nos lembrar que a nossa arte de viver vale mais que a produção, que os efeitos especiais, que os luminosos fabricados para o nosso nome. Sejamos nós mesmo, naturais. Talvez seja difícil sairmos ilesos de toda essa atração. Então mantemos a batalha, por enquanto, em sairmos o menos desfigurados possível. Afinal, pra dar um jeito aqui ou ali, temos tudo a nosso favor: a tese dos outros, a mídia, a etnia, os heróis vencidos... Que consigamos canalizar aquilo que queremos, e fazemos da dificuldade de consegui-lo a arte e o mérito das glórias almejadas. Pessoas de personalidade se destacam nessa multidão de “iguais”.

Eu tive um pesadelo, tive medo de não acordar
Tudo andava tão caído, eu andava por aí...
Sem rumo: nem rima nem refrão
Em resumo: não tive culpa nem perdão
Eu tive um pesadelo
Tive medo quando acordei.

Não temos mais que estar na direita ou na esquerda, criaram o meio. Não temos mais que sermos maniqueístas, criaram o mais ou menos, descobriram o relativo, redescobriram o direito à liberdade de pensar (ficção ou realidade?). Andamos no viaduto antes que ele seja terminado. A democracia é a pista do Surfista Prateado (lembram?): vamos construindo a base do próximo passo. A base do próximo passo, o som da próxima palavra, a intenção do próprio ato, e vamos nos construindo... nos construindo... nos adaptando. A quê exatamente? O importante é a adaptação, com certeza um dia saberemos a quê. Professemos a fé da política do país, da instituição da família, dos direitos humanos, dos diretos humanos.
Tá confuso? É, realmente tá. Mas não é confuso pensar num canibal vegetariano devorando uma planta carnívora? Não é confuso quando pensamos nos motivos pelos quais as leis são criadas, assim como os que as fazem fracassar? Antítese? Antes fosse só. É confuso sim, seu moço. O nosso dia-a-dia, os nossos sinais em disputa com a evidência das placas. Houve um tempo em que não tínhamos o que fazer (houve?); agora é o tempo que não temos como fazer (?). Mas o que queremos fazer, e o que devemos? O que temos pra usar e o que não temos? O que fizemos e não fizemos? Por quê fizemos ou não fizemos? O que pensamos que fizemos e não fizemos? O que pensamos que não fizemos e fizemos? Ih... É confuso, seu moço, é confuso sim... “dois deus: um branco e um preto; eu sou o preto”. Não adianta tentar entender tudo por departamento... E tem mais. Sempre teve, sempre tem, sempre terá mais sim.

Tudo está perdido agora que tudo acabou
O céu andava meio caído antes mesmo de desabar.
Turistas vorazes levavam pra casa
Desertos e oásis num videocassete
Anjos em queda livre...
O céu abaixo do nível do mar!


Mas quando tudo isso te encher, amigo, fecha a revista, desliga a TV, desconecta a internet. Quando tudo isso te encher, volta pro Monteiro Lobato, vai ver o mar, vai dormir um pouco, vai ler gibi, preparar um café (não toma do expresso nessas horas não). Quando você quiser, dá um sorrisão. Calça tênis com calça social, mergulha naquela lagoa perto da fazendo daquele conhecido. Toma água pura (pura naquelas, né...). Esquece a programação, pega um DVD que te agrade, um CD que você goste. Ou quem sabe o VHS mesmo, o “vinilsão”! Ou esquece isso, deita no chão, olha pro teto, respira fundo, sente seu corpo, seus braços, sua temperatura, embala o pensamento... viaja, sai, vai dar uma volta, deixa teu corpo aí estendido um instante. Vai ver uma peça de teatro, teatro! Cuidado com as peças comerciais... Ah, você gosta? Então, vai ver. “Faça o que tu queres, pois é tudo da lei, da lei”! E viva, viva a sociedade alternativa (com democracia, claro, rsrs).

Por último, te deixei a música como ela é. Assim, você pode prestar atenção! rs

Valeu, galera!
ABRAÇO FRATERNAL!